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| Foto: Reprodução | |
A Confederação Brasileira dos Trabalhadores de Pesca e Aquicultura (CBPA) é alvo de investigação por suposto desvio de R$ 221,8 milhões em aposentadorias. Apesar de registrar mais de 757 mil associados até 2025, a entidade mantém sede em uma sala de 35 m² em Brasília, onde apenas uma funcionária comparece diariamente por cerca de duas horas.
Relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) aponta que a CBPA não possui infraestrutura compatível com o número de filiados e suspeita que a entidade tenha recorrido a empresas de telemarketing para captar associados, prática proibida pelo acordo de cooperação técnica firmado com o INSS. O órgão também identificou solicitações de descontos em benefícios de mais de 40 mil pessoas já falecidas. Dos 215 mil aposentados e pensionistas vinculados à confederação que reclamaram de deduções, 99% afirmam não ter autorizado os descontos.
Criada em 2020, a CBPA obteve dois anos depois autorização para aplicar descontos nos benefícios de segurados. Em 2023, o número de associados saltou de quatro para mais de 340 mil, resultando em arrecadação anual de R$ 57,8 milhões. No primeiro trimestre de 2024, o total de filiados chegou a 445 mil, com faturamento de R$ 41,2 milhões. Até 2025, os cadastros alcançaram 757 mil, somando mais de R$ 221 milhões em dois anos.
O presidente da CBPA, Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, foi preso em novembro de 2025 por falso testemunho durante sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. Ele teria negado conhecer o tesoureiro da entidade, Gabriel Negreiros, que é padrinho de seu neto. Após apresentação de provas, Lincoln admitiu contradições, mas foi liberado após pagamento de fiança. A CPMI também apontou depósitos de R$ 5 milhões feitos por Lincoln em conta de Negreiros.
Abraão Lincoln tem histórico político ligado ao partido Republicanos e mantém relações com lideranças regionais e nacionais. A investigação também revelou vínculos da CBPA com o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como "Careca do INSS", apontado como um dos articuladores do esquema.
O escândalo, conhecido como "Farra do INSS", foi revelado em 2023 e mostrou que entidades arrecadaram até R$ 2 bilhões em um ano com descontos indevidos de aposentados. As denúncias resultaram em inquéritos da Polícia Federal e da CGU, além da demissão do presidente do INSS e do então ministro da Previdência, Carlos Lupi.


